Sim à felicidade!

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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Um Belo atrelado Sobre Alzheimer

“Longe dela”: Um belo relato sobre Alzheimer.                                          

O filme “Longe dela” relata de uma forma poética e intensa a trajetória de uma doença que assusta a maioria de nós, profissionais e leigos. A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva, que consiste num declínio progressivo funcional e uma perda gradual da autonomia que, ocasionam nas pessoas por ela afetadas, uma dependência total de outras pessoas.Mas o filme não fala só da dor da paciente que percebe seu declínio cognitivo e do estado de perplexidade e impotência que se encontra seu companheiro. Ele exprime a beleza da cumplicidade e do amor de um casal, Grant e Fiona, apesar da cruel realidade em que vivem. Mostra a sabedoria e sensibilidade de uma mulher, mesmo doente, cuidando ainda de si e do outro, na medida em que decide, de antemão, ingressar numa clínica especializada. Acalenta-nos com a dedicação e competência de uma enfermeira cuidadosa com seus pacientes e familiares. E aqui está o grande diferencial de atendimento humano: qualquer dor pode e deve ser acalentada, cuidada. E nós profissionais de saúde devemos estar sempre capacitados para isto. A personagem conforta a dor de todos nós telespectadores.Outro lado mostrado é a postura fria e distante da administradora da clínica com suas normas e regras inflexíveis. Uma delas foi a proibição absurda em não permitir visitas do marido durante um mês, alegando ser melhor para a adaptação da residente. Minha experiência como psicóloga de um Lar de Idosos, afirma a importância da família durante este período e de rotinas mais flexíveis, pois cada pessoa responde de formas diferentes. É o momento delicado, de mudança, onde tudo é estranho e novo, mesmo para aqueles que estão perdendo a memória. A enfermeira cuidadosa justifica muito bem o motivo da tal proibição: “isso é para não dar muito trabalho para a equipe, é mais cômodo”. Ao se despedir Fiona com sua sensível clareza, convida Grant para se amarem em sua nova cama, em seu novo quarto.
“Longe dela” aborda os danos e as saídas possíveis que o distanciamento causou para o marido dedicado e para a mulher demenciada. Em seu período de adaptação ela se envolve com outro residente cuidando e o protegendo. E assim, consegue de alguma forma sobreviver ao seu declínio e a perda de seu amado. Ela se sente segura e capaz, pois ele não ameaça a sua fragilidade. Seu marido, por sua vez, é apagado de sua memória (causado pela doença ou por um mecanismo de defesa psíquica?). Longe dela ele sofre, persiste, contempla a indiferença não proposital. Tenta marcar sua presença, reavivar suas lembranças. E essa dor é sentida por muitos familiares que se tornam, de uma hora para outra, um estranho qualquer. Ele chega a procurar a esposa do residente e a encontra amargurada, cansada e só. Nasce entre eles uma identificação da dor e da impotência.A mulher sem poder manter seu marido na clínica, o traz de volta para casa. E mais uma vez Fiona se vê perdida e seu quadro declina rapidamente. Grant se desespera e, por amor a ela tenta trazê-lo de volta.O filme retrata também um lado muitas vezes esquecido - a do cuidador familiar. Ele é marcado por momentos de cansaço, solidão, carência e abandono. Enfim, os dois parceiros sem seus respectivos cônjuges, encontram no outro, através do sexo, o contato com a vida, o contato com o seu íntimo dilacerado e ávido de calor humano.Após um tempo, o residente é trazido por Grant de volta para a clínica. Mas ao encontrar Fiona, percebe que ela agora o reconhece como seu amado marido. O filme termina com a bela imagem dos dois abraçados.
No cinema muitos demoram a se levantar, inclusive eu e uma senhora chorosa ao meu lado. Saímos conversando sobre a beleza do filme e sobre sua história com seu falecido marido que teve Alzheimer. Em poucos minutos trocamos idéias. Ela com suas lembranças sofridas e eu, como testemunha das várias histórias que acompanhei e acompanho profissionalmente.

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